30 April 2010

Flores, frutos, nozes, tâmaras, uvas, pães, carne e manjares

Tebas, magnífica cidade de guerreiros e luz, onde a púrpura dos faraós cinzelou nos templos e castelos, magníficas construções arquitetônicas de pedra, tijolo, gesso, mármore e ouro. Se nos reportássemos àqueles dias, no ano 1200 a.C., veríamos suas ruas repletas de gente, movimentando-se na labuta diária. Levantando a poeira dos caminhos, muitos iam e vinham, incessantemente. Seus trajes bizarros constituíam uma alegre sarabanda para nossos olhos. Naquele dia, porém, um sábado cheio de sol que apesar de entardecer recrudescia ainda fervescente, o movimento era maior e desusado. Todos com seus trajes festivos comentavam alegremente o retorno de Pecos, guerreiro respeitado, que fora a Sídon, a fim de buscar os escravos como de praxe era feito de tempos em tempos, para enriquecer o Império, a mando do soberano. Geralmente, Pecos, para exercer tal incumbência, levava consigo um número de soldados e lanceiros, pois embora o poderio do Faraó dominasse toda a parte baixa do Mediterrâneo, não era sem trabalho que conseguia seu objetivo. Geralmente procedia a uma “caçada” e como caçador, agia furtivamente surpreendendo a presa. Tão bem desempenhava suas funções neste setor, que granjeara a confiança do Faraó a ponto de chefiar seu exército de guarda pessoal. O Faraó, mantido no poder pela violência, era odiado pelos povos das terras subjugadas e receoso de um atentado, possuía um pequeno exército sem o qual nunca saía do palácio e não permitia também que se ausentasse deixando-o desguarnecido. Pecos era o chefe, o comandante desse pequeno exército de lanceiros e quando se ausentava, era substituído por seu imediato, homem de sua inteira confiança. A cidade regurgitava, festejando o regresso de Pecos. Geralmente, ao chegar a caravana, o Faraó dava uma grande festa em sua homenagem, e o povo assistia do pátio externo, recebendo trigo e vinho à vontade, tocando alaúdes e cítaras alegremente, improvisando danças, quando os efeitos do vinho se faziam sentir, e esperando pelas sobras do banquete do palácio. Muitos se deixavam empolgar pelos prazeres do festejo e a orgia prosseguia até que todos, extenuados, rolassem por terra. No palácio, entretanto, a festa constituía-se de um lauto banquete de finas iguarias e depois, quando todos já estavam saciados, envoltos pelos vapores do vinho após a dança das melhores bailarinas do palácio, desfilavam os escravos mais importantes, ou mais interessantes, para serem ofertados a alguém. Nesse ambiente, inicia-se a nossa história. CAPÍTULO I Duas almas, um destino Naquela tarde, o povo rumava para o pátio externo do palácio, conhecedor da chegada, pela manhã, da caravana de Pecos. Viam-se criaturas de todos os tipos: lavradores vestidos com suas túnicas de pano vermelho ou de listrado preto e amarelo, mulheres carregando os filhos pequeninos às costas, jovens alegres, sacudindo os brincos reluzentes, deslizando como felinos pelas ruas poeirentas, com suas túnicas colantes, deixando a nu seus ombros morenos e parte do colo exuberante, calçando finas sandálias de couro de cabra e trazendo os véus cobertos de pedrarias que tilintavam e luziam aos reflexos solares. No palácio, a atividade ia em meio. Escravos cruzavam os vastos salões enfeitados de brocado e púrpura, em uma azáfama constante, dispondo objetos e flores em cochichos e risinhos abafados. Dali a poucos instantes começaria o festim. Décios, escravo que gozava de singulares regalias perante Pecos, e conseqüentemente perante o Faraó e seus sacerdotes, dirigia os outros escravos, nem sempre deixando-se levar pela benevolência e compreensão. Ostentava naquele dia uma túnica cor de vinho, com uma insígnia de pedras no peito, presa ao pescoço por um cordão azul. Fora um régio presente do Faraó por um serviço prestado, que ele orgulhosamente ostentava nas ocasiões festivas. Décios, pressurosamente, dirigiu-se à sala do banquete, examinando mais uma vez se tudo estava como determinara. Sorriu embevecido: na sala havia magníficas flores, frutos, nozes, tâmaras, uvas, pães, carne e muitos outros apetitosos manjares daqueles dias: tudo disposto sobre maravilhosos coxins de púrpura e ouro ao redor das paredes cobertas por finos tecidos da Pérsia e da Macedônia. No centro, a pista onde as dançarinas deveriam efetuar seus bailados, tendo em cada canto, piras, donde saíam constantes línguas de fogo que os escravos reavivavam amiúde, ajuntando-lhes finos extratos de ervas aromáticas que balsamizavam a sala agradavelmente. Os archotes já estavam preparados para serem utilizados assim que o sol se escondesse no crepúsculo róseo do céu de Tebas. O barulho lá fora já principiara, demonstrando que o povo aguardava o início da festa com impaciência. As liteiras e os cavaleiros já começavam a chegar ao palácio e os salões receptivos regurgitavam. Súbito, dois pajens, vestindo a túnica da antecâmara do soberano, saíram pelas cortinas que circundavam o coxim do Faraó. Traziam dois clarins e postando-se eretos, desceram as cortinas, tocando em seguida – como era de praxe – o sinal para anunciar o soberano. Imediatamente o silêncio se estabeleceu. Um homem magro, calvo, moreno, envergando túnica de alvo linho, coberta de pedrarias rutilantes, carregando ao peito a Grã-pedra, penetrou majestosamente no salão. Era o Faraó. Todos se curvaram em reverência. – Meus amigos, – disse ele – saúdo-vos e como anfitrião, espero que todos façam jus à minha hospitalidade. Desejo saudar em particular o emissário que valorosamente cumpriu mais uma vez sua missão em terras distantes. Do outro lado da sala, entrando garborosamente, fazendo reluzir seus atavios, surgiu um homem, seguido por mais seis outros, com suas lanças e escudos, em fila dupla. Pecos, que caminhava à frente, adiantou-se e postado aos pés do Faraó o adorou, saudando-o gentilmente. – Levanta-te, Pecos. Estou satisfeito com o cumprimento de tua missão e quero agraciar-te com a Grã-pedra opalina, para premiar o teu desvelo e tua perícia. Acercou-se então dele, já em pé, e colocou-lhe ao pescoço a grande e maravilhosa pedra rutilante, presa por um cordão luzidio.

1 comment:

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