27 March 2010

A Divina Comédia - Dante Alighieri

A Divina Comédia (em italiano: Divina Commedia, originalmente Comedìa, mais tarde batizada de Divina por Giovanni Boccaccio) é um poema de viés épico e teológico da literatura italiana e da mundial, escrita por Dante Alighieri, e que é dividida em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. O poema chama-se "Comédia" não por ser engraçado, mas porque termina bem (no Paraíso). Era esse o sentido original da palavra Comédia, em contraste com a Tragédia, que terminava, em princípio, mal para os personagens. Não há registro da data exata em que foi escrita, mas as opiniões mais reconhecidas asseguram que o Inferno pode ter sido composto entre 1304 e 1307-1308, o Purgatório de 1307-1308 a 1313-1314 e por último o Paraíso de 1313-1314 a 1321 (esta última data fecha com a morte de Dante).

Romeu e Julieta - Os Atos

Duas casas, iguais em dignidade - na formosa Verona vos dirão - reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento.

26 March 2010

Do pensamento único à consciência universal

“POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO”

Do pensamento único à consciência universal

Milton Santos

A obra visa, através da reflexão sobre o espaço geográfico, refletir também sobre o contexto atual da sociedade, incluindo paradigmas materiais e políticos, além de rever também problemas e dores da atualidade. Busca também os meios pelos quais devemos nos ater para, quem sabe, construir um novo conceito de mundo globalizado, em favor do qual nos é interessante viver e lutar.

A originalidade do autor se dispõe de forma atual, compreendendo também uma serie de disposições sobre artigos e conferências diversas.

O autor pretende, portanto, retratar o ser da sociedade globalizada social mostrando um dever ser de uma nova globalização, essa mais humanizada.

A discussão do papel da ideologia no atual sistema global tem importância capital no livro, isso garante também uma ênfase no papel da política, visto que essa se define como a “arte de pensar as mudanças e de criar as condições para torná-las efetivas”.

O autor faz uma profecia de um futuro de mudanças provindas de baixo para cima, onde o intelectual e seu pensamento livre desempenharão papel substancial nas próximas revoluções dos paradigmas mundiais.

A crítica recai ainda sobre a atual globalização com sua tendência ao tecnicismo e mecanização, levando a uma desumanização e a um progressivo domínio do capital perante a vida social ou pessoal.

Daí a sugestão de três vias de globalização para uma visão crítica da mesma, no intuito de revisá-la e reconstruí-la: A primeira seria a globalização como fábula; a segunda como perversidade; e a terceira como uma outra globalização, a do dever ser.

A primeira tentando mostrar os conceitos e ideologias da globalização atual no sentido de legitimar a si mesma. A segunda visando uma análise e entendimento das inúmeras e progressivas desigualdades e perversidades criadas pela globalização que se diz integradora e homogeneizadora. Já a ultima traz um conceito novo de globalização, através de uma integração real, social e humanitária, na qual as desigualdades se amenizariam, o tecnicismo ou o capital não se sobreporiam ao âmbito individual ou social, mas se dariam de forma inteligente e sustentável. Assim, não seria necessária a subjugação do ser humano, que teria a tecnologia trabalhando em seu favor, e não em favor do capital favorecedor de uma minoria.

A violência da informação

Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da informação. Conforme já vimos, as novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle.

O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto é mais grave porque, nas condições atuais da vida econômica e social, a informação constitui um dado essencial e imprescindível. Mas na medida em que o que chega às pessoas, como também às empresas e instituições hegemonizadas, é, já, o resultado de uma manipulação, tal informação se apresenta como ideologia. O fato de que, no mundo de hoje, o discurso antecede quase obrigatoriamente uma parte substancial das ações humanas – sejam elas a técnica, a produção, o consumo, o poder – explica o porquê da presença generalizada do ideológico em todos esses pontos. Não é de estranhar, pois, que realidade e ideologia se condunfam na apreciação do homem comum, sobretudo porque a ideologia se insere nos objetos e apresenta-se como coisa.

Estamos diante de um novo "encantamento do mundo", no qual o discurso e a retórica são o princípio e o fim. Esse imperativo e essa onipresença da informação são insidiosos, já que a informação atual tem dois rostos, um pelo qual ela busca instruir, e um outro, pelo qual ela busca convencer. Este é o trabalho da publicidade. Se a informação tem, hoje, essas duas caras, a cara do convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produção. Brigando, pela sobrevivência e hegemonia, em função da competitividade, as empresas não podem existir sem publicidade, que se tornou o nervo do comércio.

Há uma relação carnal entre o mundo da produção da notícia e o mundo da produção das coisas e das normas. A publicidade tem, hoje, uma penetração muito grande em todas as atividades. Antes, havia uma incompatibilidade ética entre anunciar e exercer certas atividades, como na profissão médica, ou na educação. Hoje, propaga-se tudo, e a própria política é, em grande parte, subordinada as suas regras.

As mídias nacionais se globalizam, não apenas pela chatice e mesmice das fotografias e dos títulos, mas pelos protagonistas mais presentes. Falsificam-se os eventos, já que não é propriamente o fato o que a mídia nos dá, mas uma interpretação, isto é, a notícia. Pierre Nora, em um bonito texto, cujo título é "O retorno do fato" (in História: Novos problemas, 1974), lembra que, na aldeia, o testemunho das pessoas que veiculam o que aconteceu pode ser cotejado com o testemunho do vizinho. Numa sociedade complexa como a nossa, somente vamos saber o que houve na rua ao lado dois dias depois, mediante uma interpretação marcada pelos humores, visões, preconceitos e interesses das agências. O evento já é entregue maquiado ao leitor, ao ouvinte, ao telespectador, e é também por isso que se produzem no mundo de hoje, simultaneamente, fábulas e mitos.

In Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. III Uma globalização perversa - A violência da informação, pp. 38 - 40, Editora Record, Rio de Janeiro - São Paulo, 2000. MILTON SANTOS


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